1. sexta-feira, 7 de maio de 2021

    Passei a vida toda dizendo: "quando eu viajo, um dos primeiros lugares que gosto de conhecer é uma igreja local". Nunca fui religiosa, apesar de católica. Posso contar nos dedos da mão as vezes que frequentei igrejas com a intenção de aproveitar seu propósito oficial. Recentemente, percebi: gosto de igrejas porque são silenciosas. Percebi também que apesar de tudo, também gosto de cemitérios e campos abertos, no meio do nada. A conclusão então, é inevitável: gosto mesmo é do silêncio. Gosto da ausência do barulho cotidiano e do ir e vir das pessoas. No silêncio, o tempo para e a calma se instaura. É isso: gosto de igrejas e campos abertos porque me trazem paz diante da aleatoriedade da vida - assim como você. Você, pra mim, é silêncio em meio ao caos. 


  2. sábado, 21 de setembro de 2019

    "the year of letting go, of understanding loss. grace. of the word ‘no’ and also being able to say ‘you are not kind’. the year of humanity/humility. when the whole world couldn’t get out of bed. everyone i’ve met this year, says the same thing ‘you are so easy to be around, how do you do that?’. the year i broke open and dug out all the rot with own hands. the year i learnt small talk. and how to smile at strangers. the year i understood that i am my best when i reach out and ask ‘do you want to be my friend?’. the year of sugar, everywhere. softness. sweetness. honey honey. the year of being alone, and learning how much i like it. the year of hugging people i don’t know, because i want to know them. the year i made peace and love, right here."
    Warsan Shire

  3. Impossibilidades da vida adulta

    sexta-feira, 28 de setembro de 2018

    Tem sido difícil. Usei a palavra impossível algumas vezes nos últimos dias mas decidi que precisava bandona-la de vez. Abandonar palavras deve ser mais fácil que abandonar os sentimentos que as carregam. Pessoas então - me pego pensando - são praticamente impossíveis de abandonar. Tá vendo? Olha ela aí de novo. Impossível! Impossível! Impossível!
    Te dizer adeus (já que você não aceitou o até logo) foi uma das decisões mais difíceis que tomei na vida. Quem me conhece, pelo menos um pouco, sabe como sou apegada. Costumava achar que esse apego era uma característica que eu deveria necessariamente combater. Apegar-se às coisas é deselegante, como se um tom teimoso e sem afeto paira-se sobre as relações. Soa até triste, não é? E foi. Foi muito triste! Mas foi também a minha maior lição sobre desapego na vida. Foi abandonar um desejo tão forte simplesmente porque não parecia certo. Foi, como disse, praticamente impossível. Ah, esse advérbio que, colocado antes, muda todo o sentido da frase. Você, claro, riria abertamente dessa minha última frase. "As vezes é impossível negar que você se formou em letras!" Pra variar, olha ela aí, sorrateira, dentro do seu discurso também.
    Seu discurso, claro, foi impecável. A formação em publicidade é muito útil nessas horas - e por favor, observe como eu também sei usar sua escolha de profissão pra fazer piada nessa situação nada engraçada. Percebo então, que posso ficar horas recriando memórias e citando graciosidades pra evitar falar o que precisa ser dito.
    Ao contrário do que imaginava, chegou infelizmente o dia em que eu diria pra alguém que gosto muito: me desculpe, mas é impossível. A Isabela de dez anos atrás se enfiou em relacionamentos bem menos promissores sem nem pensar duas vezes. A Isabela de vinte e cinco pondera e decide, com tristeza, que não vai dar. Você protesta, claro. "São 500 km, pelo amor de Deus", te ouço dizer no telefone, depois da meia noite, mas pra mim, eu sei que é muito mais. É a minha luta contra a intensidade e a beira do precipício já muito conhecido. Eu sei que você sabe também, mas talvez você não tenha deixado o garoto de quinze anos de lado. Sorte sua. A minha garota de quinze anos me olha com certa desaprovação, mas também empatia, como quem diz "não é impossível, só não é o que você quer agora". E é o suficiente, porque escrever sobre você ainda dói, mas não muda nem um pouco a veracidade do que te disse naquela última ligação: não estou pronta. Mas espero que consiga lembrar, mesmo depois desse fim que veio antes do começo, que eu não me apaixonar por você era praticamente impossível.

  4. Eu não via mais poesia!

    segunda-feira, 18 de setembro de 2017

    O fim não veio porque você gostava de números e eu era apaixonada pela narrativa. Não porque você era "tanto faz" e eu sou completa decisão. Ou porque eu era expressão e você era silêncio.
    Não porque eu era seriedade (quem me dera) e você era riso frouxo. Muito menos porque eu era sempre futuro e você nem sempre presente. No fim, os caminhos se dividem por tudo aquilo que não rima, fazer o que?

    Tudo isso
    se tudo isso fosse
    o fim nao aconteceria.
    Mas nos dias claros dava pra ver:
    o que faltava em você
    era poesia.

    E amor pra mim é só isso: ser verso livre que, mesmo sem querer, rima no fim.

  5. quarta-feira, 26 de abril de 2017

    A gente começou a namorar desde a primeira vez que se viu. Mentira! A primeira vez não conta, porque faz mais de três anos e apesar dos vários registros fotográficos, aquela não é a Isabela que sou hoje. E aquele, de alguma forma, não é você.
    Então, a gente namorava desde a segunda vez que a gente se viu. Lembra? Faz tão pouco tempo mas já está tão longe na memória. A gente começou a namorar quando o garçom do bar achou que a gente já namorava e insistia pra você se declarar. Ali, na esquina do boteco mais frequentado pelos estudantes da USP, entre a sua timidez e a gargalhada, a gente começou a namorar. Já namorávamos pois em pouco tempo, já tínhamos uma lista imensa de piadas internas. Namoramos quando você resolveu que, no meio de um cigarro (que você nem gosta), fumado em pé (que eu não gosto), deveria me beijar. Foi tão bom e tão certo que logo ali, numa quarta-feira chuvosa de Janeiro, a gente já sabia que namorava. Namoramos porque dormimos juntos - e bem - numa cama de solteiro improvisada da minha nova casa. E também por que no outro dia de manhã, te dar tchau no portão já tinha gosto de saudade. Como é possível? A gente namora bem antes de oficializar as coisas. Todo mundo sabe quando está namorando, mas acontece tão rápido que a maioria de nós fica meio perdido neste começo de namoro tão gostoso mas totalmente desavisado. Não sei se existe outro jeito de se apaixonar a não ser namorando desde o primeiro encontro. Sempre achei que quando é amor, acontece muito fácil. Amor, quando acontece, tem que ser calmo, seguro e leve, bem parecido com o seu sorriso desnorteado quando acorda de manhã.


  6. São tempos difíceis. Todo dia um direito social é tirado. Todo dia meus amigos são discriminados. Todo dia eu ouço ódio disfarçado de opinião. Quase todo dia eu acho que não tem solução. Quase. Hoje não é um desses dias.
    Hoje é o dia em que uma amiga de infância me manda mensagem dizendo obrigada e pedindo desculpas. Há um tempo atrás, diz ela, eu comentei em uma postagem e de alguma forma ajudei-a a abrir os olhos. Hoje é o dia que ela contou pra mim como mudou de ideia. Não lembro da postagem, não lembro do meu comentário, mas me emocionei. Todo dia eu ouço que sou exagerada, que sou ingênua e que não adianta conversar, nada vai mudar nunca. Todo dia eu sinto que falo, brigo e luto em vão. Mas não é. Faço tudo isso pra que em meio a vários dias difíceis, numa quarta-feira chuvosa, alguém me lembre que não estou sozinha.

  7. sobre o que é nosso

    quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

    Hoje compartilhei uma foto nossa naquela famosa rede social de gente que se ama, se apoia e no fundo, fica alheio as vidas uns dos outros. Não sei o por quê, mas pela primeira vez na vida, assim que recebi os primeiros 'likes', senti que não tinha feito a coisa certa. De alguma forma, quanto mais pessoas descobriam aquela foto tão linda, menos ela parecia nossa. Dá pra entender? Cada coração ou comentário feito, mesmo que sinceros, parecia retirar um pedacinho daquele momento de dentro de mim. Pode soar até mais triste do que realmente é, mas nunca antes na vida eu senti tanto zelo por algo. Pensei em apagar a foto e fingir que nada tinha acontecido, mas era tarde demais.
    Só depois de encarar a tela do computador por horas é que percebi: todas as pessoas que vêem a foto, não estão nela, não estavam lá. Seu sorriso e meu beijo ali presentes, eram nossos, de mais ninguém. Só a gente sabe o que é olhar uma imagem tão simples mas sentir tanta coisa. Quando se trata de uma foto nossa, só os nossos corações e 'likes' fazem sentido. E você sabe disso. Agora eu também sei. E sei também que aquela nem era a minha foto favorita de nós dois. A favorita eu vou mandar revelar amanhã, e em um último esforço de preservação teimosa, vai permanecer guardada.

  8. Quando é que a gente sabe que ama?

    quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

    É quando tem vontade de se ver todo dia?
    Não não, isso é paixão.
    É quando a gente começa a ansiar a chegada e adiar a despedida?
    Acho que isso também é paixão.
    Mas e quando a risada do outro se torna o som mais agradável do mundo?
    Paixão.
    Que loucura! E quando é que a gente sabe que ama?
    Acho que é quando sente tudo isso com frio na barriga, mas sabe que o abraço do outro é o lugar mais seguro do mundo.


  9. segunda-feira, 30 de janeiro de 2017


    "Se tens um coração de ferro, bom proveito.
    O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

    José Saramago, em A segunda vida de Francisco de Assis.

  10. O que é São Paulo, afinal?

    quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

    São Paulo faz 463 anos hoje.

    São Paulo. Ah, São Paulo! Você era sinônimo de liberdade para uma Isabela sonhadora aos 15 anos e ao mesmo tempo - descubro eu, assim que chego, de verdade - exemplo puro da desigualdade. São Paulo é isso: é uma coisa aqui, outra acolá. É tudo e nada. Essa cidade transloucada que inclui, exclui e flui com uma rapidez assustadora. São Paulo faz 463 anos hoje mas qualquer um que preste um pouco de atenção sabe que cada pedaço de São Paulo comemora aniversários diferentes.

    A São Paulo do centro é esquecida, desvirtuada e porra louca. Na Mooca São Paulo é Juventus, é tradição, é casinha com porta na rua. Já na Vila Mariana, São Paulo tem 45 anos, gosta do boteco antigo e de andar no parque. Na Augusta, São Paulo é alternativa e descolada, com um ar rockeiro que engana. São Paulo em Pinheiros está nas casa dos 30, meio hippie de bicicleta mas sem dívida no fim do mês. Em Itaquera, São Paulo é vida louca, é cultura periférica das mais ricas. São Paulo do Higienópolis é higienista, é criança mimada protegida por muros invisíveis. Já em Guaianazes, essa mesma São Paulo é nordestina, sofrida, mas com aquele sorriso de quem sabe que merece mais. No Tucuruvi, São Paulo é interior - é metrô do lado da mercearia do seu João. São Paulo no Morumbi é solidão, é vegetação sem vida, é castelo isolado. Já na Avenida Paulista, São Paulo é MASP, é carro, é ciclovia, é pedestre pra todo lado. São Paulo é correria, é uma paradinha pra ouvir o moço tocando Caetano, e já corre de novo.

    Essa pra mim é São Paulo, mas pra você pode ser uma coisa completamente diferente. Não sei em qual São Paulo você vive. Talvez você nem viva na São Paulo que gostaria. Talvez não se importe em saber quantas São Paulos têm dentro da sua cidade. Mas eu queria te pedir uma coisa: tente descobrir. Tente olhar para os lados quando estiver passando naquela região que você não conhece ou naquela rua que te dá um pouco de medo. Observe a São Paulo que seu amigo, seu porteiro ou o motorista do seu ônibus vivem e aprende de uma vez por todas: essas São Paulos também são suas. Você pode não vê-las, mas elas estão lá e merecem sua atenção. Eu sei que é difícil, mas tente aceitar que essa cidade é muito grande pra você se acomodar e aceitar viver só no pedacinho que te convém.

    Eu prometo tentar também.